Univali recebe pinguins resgatados em praias de SC
Laboratório da Univali atua na recuperação de aves e mamíferos marinhos
Penha/SC
– O Estado de Santa Catarina recebe, todos os anos, visitantes
do extremo sul da América do Sul. São os pinguins. Aves, procedentes do
sul da Patagônia, que durante essa época do ano deslocam-se para a
região sul-sudeste do litoral brasileiro direcionados pelas correntes
das Malvinas e tempestades oceânicas. A maior parte
destas aves são jovens excedentes de populações que realizam este
deslocamento procurando alimentos. Apenas esse ano, três pinguins já
passaram por tratamento no Laboratório de Reabilitação de Aves Marinhas
do Centro de Ciência Tecnológica da Terra e do Mar
(CTTMar), da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) no município de
Penha. No momento, um deles ainda está em recuperação.
Gilberto
Caetano Manzoni, coordenador do laboratório, explica que o animal
recebido pelo laboratório está em boas condições de saúde e que,
provavelmente, apenas
se perdeu do bando. Se a recuperação ocorrer de acordo com o previsto
eles devem ser encaminhados para a sede da Policia Ambiental, em
Florianópolis. Essa, no entanto, não é a realidade da maioria das aves
que chegam ao Estado, conta o pesquisador. Ele explica
que, na incrível jornada dessas aves, algumas, sofrem com a
contaminação por óleo, que os compromete tanto interna como
externamente: “O óleo danifica a função de impermeabilidade das penas
fazendo com que a água alcance a pele do animal. Consequentemente
as aves sentem frio pela queda da temperatura corporal. Nesse momento
ele sai da água para se aquecer”, diz.
O
metabolismo de nosso visitante aumenta para manter a temperatura
corporal que é de, em média 40°C. Isso faz com que ele gaste muita
energia. Sem alimento, ele
ficará desidratado e emagrecerá. A camada de gordura ficará menos
espessa e a musculatura de natação atrofiará incapacitando o nado e até
mesmo a flutuação na superfície da água. Nessas condições, o animal está
condenado a morte. É nesse momento que moradores
da região ou órgãos ambientais, ao encontrarem o visitante, entram em
contato com o Laboratório de Reabilitação de Aves Marinhas do
CTTMar/Univali que, desde 1994, atua no município de Penha. Esse
laboratório é responsável pelo monitoramento das ocorrências
e recuperação das aves marinhas debilitadas que ocorrem na região.
Gilberto
conta que, após a recuperação, as aves são liberadas sob condição de
estarem absolutamente sadias, selvagens e aptas para desenvolver suas
atividades
normalmente: "Outro padrão que se observa para a liberação é se o
animal apresentou, no mínimo, um ganho de peso de 10% em relação ao
seu estado inicial", salienta. O professor explica, ainda, que a
recuperação destes animais acontece no combate imediato
aos efeitos primários, como stress, hipotermia, desidratação, problemas
gastrointestinais pela intoxicação por meio da ingestão do óleo e
outras substâncias prejudiciais e lesões causadas por capturas
acidentais em redes de pesca: "Cada animal é um caso diferente,
e sempre existirão fatores que modificarão os protocolos existentes.
Estas tarefas são grandes desafios que merecem todo o nosso esforço e
dedicação, pois o nosso empenho e obtenção de conhecimento é uma
alternativa de sobrevivência a estas espécies", defende
o pesquisador.
ESTRELAS, MAS NÃO OS ÚNICOS VISITANTES
Apesar
de ganharem mais visibilidade, os pinguins não são os únicos hóspedes
do laboratório. A costa catarinense é privilegiada por apresentar uma
grande diversidade
de ecossistemas. Entre as espécies de aves mais comuns presentes na
região da Penha, durante todo o ano, estão gaivotas, trinta réis, atobás
e tesourões.
Manzoni
explica que as gaivotas são aves que interagem com o homem,
principalmente em locais onde existe a pesca, por receberem alimento com
uma mais frequência,
criando uma relação de dependência quanto a alimentação. Por outro
lado, durante o verão, aumenta a quantidade de alimento disponível nas
praias: "O problema é que muitas vezes estes alimentos encontra-se em
estágio de deterioração, aumentando com isso a
probabilidade de enfermidades nas aves em decorrência da ingestão de
alimentos contaminados", aponta o pesquisador.
Além
desses, o laboratório já recebeu tartarugas, leões e lobos marinhos. A
ocorrência desses animais proporciona o monitoramento das espécies na
região e principalmente
sua recuperação, acondicionando os mesmos a retornarem ao seu habitat
da forma mais rápida possível, suprindo a expectativa da comunidade
local assim como dos turistas que vem a esta região. O serviço é
totalmente mantido com recursos institucionais e conta
com o apoio de muitos voluntários. No local há um auditório de 60
lugares, destinado a realização de palestras com a finalidade de
promover educação ambiental para escolas e comunidade.
Também
está disponível tanque com abastecimento de água do mar filtrada e
áreas de cativeiro para alimentação e tratamento das aves debilitadas.
Além disso a
estrutura conta com um laboratório para a realização dos procedimentos
terapêuticos, coleta de parâmetros biométricos despetrolização,
enxágue, secagem de animais oleados. “Tudo isso para que nossos
visitantes possam voltar para casa, em boas condições”,
afirma o diretor do CTTMar/Univali, professor João Luiz Baptista de
Carvalho.
Ele
diz ainda que muitas vezes os pesquisadores se perguntam por que estão
tentando salvar animais que a natureza escolheu para morrer e sobre o
papel da Universidade
no processo de seleção natural tentando recuperar seres frágeis e
doentes: “Não haveria outra razão para nós, pesquisadores conscientes do
processo evolutivo, agirmos dessa forma senão pela necessidade de
conscientização da população pela preservação do ambiente
marinho”, pontuou o professor. Para Carvalho, trazer para a Univali a
responsabilidade da cura e recuperação destes seres simpáticos à maioria
das pessoas traz esperanças quanto a recuperação do meio ambiente: “É
isso que permite-nos gritar ao mundo, de forma
otimista, que somos capazes, e devemos, de cuidar melhor do nosso
planeta. E que estamos apenas fazendo a nossa parte”, conclui o
diretor.
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