Qualidade na Educação depende de investimentos
Especialista em Políticas educacionais defende que o País precisa mais do que dobrar o volume de recursos destinado ao sistema de ensino
Muito se tem falado na desvalorização da profissão de professor e da falta de atratividade da carreira docente. Mas o que fazer para reverter esse quadro. Jane Soares , licenciada em Pedagogia , Pós graduada em Psicopedagogia, 25 anos de sala de aula em séries iniciais , sendo 9 na educação infantil na rede particular de ensino do DF, 16 anos na SEE do DF e hoje estou Vice Diretora da Escola. Classe 510 do Recanto das Emas no Distrito Federal .
acredita que a solução passa, necessariamente pela ampliação de recursos. " Os salários tem impacto direto na qualidade diz. " Salário melhores aumentam a atratividade e a permanência na carreira. Jane defende que a determinação de reservar um terço do tempo do trabalho para atividades extra classe é o maior impacto, pois terá grande impacto na qualidade da Educação - e em termos de prestígio profissional. Nesta conversa com A Revue Femme Magazine, ela aborda outros temas importantes e polêmicos, como o próprio piso salarial, as avaliações externas e a qualidade do ensino nas escolas públicas.
RFM - Os jovens universitários consideram hoje que a carreira docente não é uma boa opção. Como chegamos a essa situação?
Jane - Basta lembrar alguns aspectos da nossa história. Na Praça da Repúblicas, no centro de São Paulo, foi erguida uma das primeiras escolas do século 20, onde hoje funciona a Secretaria do Estado da Educação. Sua arquitetura é linda e muitos a chamam de Palácio da Educação. Ela possuía auditório e laboratório e oferecia atendimento aos estudantes . Existiram várias outras unidades como essa em todo o país, que tentavam demonstrar que, com a República, a escola pública de qualidade era a chave para a evolução da Nação. Com o processo de industrialização e de forte urbanização houve uma mudança no padrão de construção; Surgiram os escolões , às vezes ,para cinco mil jovens. Em meados do século passado, a relação aluno/professor e os recursos financeiros aplicados nos sistemas públicos já eram bem menores. Nos anos 1990, chegamos a ter escolas de lata! Em paralelo, os salários se degradaram, à medida que o ensino começou a ser universalizado. Isso se explica por que nunca tivemos um processo de expansão da escola pública pensando como instrumento de nação, de identidade nacional - como ocorreu nos países desenvolvidos - Inglaterra, França e outros - e também em vizinhos - Argentina e Chile, que conseguiram manter o padrão de atendimento mesmo com muito mais estudantes incorporados ao sistema
RFM - O Brasil investiu no passado 4,7% do Produto Interno Bruto ( PIB) em Educação. A Unesco recomenda no mínimo 10% . Isso é suficiente?
Jane - Acredito que não. O Brasil ainda investe muito pouco. Penso que aplicar 6% do PIB é suficiente quando o sistema já funciona bem. E nós ainda temos de superar vários gargalos , como universalizar o acesso à Educação Infantil e ao Ensino Médio, Por isso, defendo que temos de investir 25% do PIB até que essas questões estejam superadas. Quando tivermos uma capacidade instalada e com fluxo correto, inclusive com a estabilidade da taxa de natalidade, será possível o patamar 10% ou 9% do PIB ao ano, nível atual de muitos países . Mas, para instalar essa capacidade com um padrão mínimo de qualidade, o investimento tem de ser ampliado, e muito.
RFM - Uma lei recente tenta atacar esses gargalos ao tornar o ensino obrigatório para todos dos 4 aos 17 anos, incluindo a Educação infantil e o Ensino Médio. De que modo essa decisão pode ajudar a valorizar o magistério.?
Jane - Em vários países que têm todos os segmentos da Educação Básica como obrigatórios, exige-se uma formação melhor justamente dos que atuam na Educação Infantil. Há todo um cuidado no interagir com as crianças, de forma a levá-las a conviver, organizar-se e brincar e, claro, aprender. Muitos desses países exigem pós-graduação e remuneram por isso. Aqui, infelizmente, ocorre ao contrario. Ainda hoje no caso das creches, o atendimento é feito por sistemas conveniados e muitas das pessoas que trabalham nessas entidades nem sequer tem formação. Na minha opinião estamos muito distantes do razoável. O aprimoramento na formação dos profissionais na área de educação faz-se necessário não só na pre escola que hoje chamamos de Educação Infantil, mas sobretudo no ensino Fundamental nas séries finais do ( 6º ao 9º ano) bem como os profissionais do Ensino Médio, que tem tanta responsabilidade nesse processo como os profissionais que atuam em creches . Acredito que um dos problemas da educação brasileira é que não encaremos a educação como um processo, e como em qualquer processo temos que estabelecer metas, a curto , a longo prazo, elas têm que ser revistas ,avaliadas rediscutidas e planejadas novamente, estas são etapas fundamentais de um processo para podermos avançar, pensar na educação como um todo , formar o indivíduos nos vários aspectos da vida, porque o que temos hoje são fragmentos de educação, dai a dificuldade de seguir o processo.
RFM - Ampliar o volume de investimentos pode trazer melhorias diretas na qualidade do ensino
Jane - Creio que sim. Sem dúvida, essa é a medida que pode ter mais impacto no curto prazo. Salários melhores tem impacto direto na atratividade e na permanência na carreira. Ao investir mais, é possível atrair os bons alunos do Ensino Médio e construir uma carreira mais atrativa. Há muitos países, que têm como política de estado atrair os melhores jovens para a Educação. Com isso garantem a preservação da ideia de nação , de sociedade, de futuro, de cultura .Outra medida que com certeza poderia atrair mais jovens para esta carreira, depois de investimento é claro, é a valorização da importância da figura do professor como agente transformador em uma sociedade, os nossos meios de comunicação poderiam investir mais em campanhas de valorização da carreira ,pois este profissional não é lembrado nem em seu dia marcado em calendário. E aí minha preocupação, pois aqui no Distrito Federal onde os professores são mais organizados em buscar seus direitos, que temos jornada ampliada ( o professor tem cinco horas de regência e coordena, planeja, faz curso em horário contrario, isso no ensino público) e um plano de carreira razoável em relação a outros Estados brasileiros , há uma carência expressiva na falta de profissionais nas mais diversas áreas, e o número é mais assustador quando buscamos professores nas áreas das ciências exatas .
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